Leucemias: Tipos, Diagnóstico e Tratamento

Leucemias: tipos, diagnóstico e tratamento | Guia Completo 2025
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O que são as leucemias?

As leucemias são neoplasias hematológicas caracterizadas pela proliferação desordenada de células imaturas na medula óssea, resultando em falência medular. Esse processo compromete a produção normal de células sanguíneas, afetando a eritropoiese (produção de glóbulos vermelhos), leucopoiese (produção de glóbulos brancos) e plaquetopoiese (produção de plaquetas). Isso leva a manifestações clínicas como anemia, infecções recorrentes e sangramentos.

Classificação das leucemias

As leucemias podem ser classificadas conforme a velocidade de progressão e a linhagem celular acometida:

  • Leucemias agudas: evolução rápida, com acúmulo de blastos imaturos. São mais graves, consideradas urgências oncológicas.
  • Leucemias crônicas: progressão mais lenta, com acúmulo de células maduras, mas disfuncionais.

Leucemias Agudas

O que são leucemias agudas?

As leucemias agudas representam emergências médicas devido à proliferação descontrolada de precursores hematopoiéticos, que perdem a capacidade de diferenciação. Isso resulta na liberação de células imaturas que se acumulam na medula óssea e circulação periférica, comprometendo a produção de células normais e levando a citopenias e sintomas de rápida instalação.

Tipos de leucemia aguda

Do ponto de vista morfológico e imunofenotípico, distinguem-se em:

  • Leucemia Linfoide Aguda (LLA): mais prevalente em crianças, ocorre no precursor da linhagem linfoide.
  • Leucemia Mieloide Aguda (LMA): mais frequente em adultos, ocorre no precursor da linhagem mieloide.

Ambas compartilham sintomas como palidez, sangramentos, febre e dor óssea, mas possuem tratamentos e comportamentos biológicos distintos.

Diagnóstico das leucemias agudas

O diagnóstico baseia-se na presença de mais de 20% de blastos no mielograma (OMS). A imunofenotipagem é indispensável para definir a linhagem celular e direcionar a terapia. Estudos genéticos e citogenéticos são fundamentais para estratificação prognóstica.

Tratamento geral

O tratamento é dividido em três fases: indução da remissão (quimioterapia intensiva), consolidação (eliminação da doença residual) e manutenção (em alguns protocolos). Pacientes de alto risco podem ser encaminhados ao transplante alogênico de medula óssea.

Leucemia Mieloide Aguda (LMA)

Características da LMA

A LMA caracteriza-se pela expansão clonal de precursores mieloides imaturos, sendo mais comum em adultos e idosos. O curso é agressivo, com rápido aparecimento de sintomas de falência medular. O sangue periférico costuma apresentar blastos mieloides e, frequentemente, bastonetes de Auer.

Bastonetes de Auer. Fonte: Uptodate.

Classificação FAB da LMA

A classificação FAB (French-American-British) divide a LMA em subtipos M0 a M7, conforme diferenciação e morfologia celular. Destaque para a M3, ou Leucemia Promielocítica Aguda (LPA), causada por translocação t(15;17) e gene de fusão PML/RARα, fortemente associada à coagulação intravascular disseminada (CIVD).

Variante M3 – Leucemia Promielocítica Aguda (LPA)

O tratamento da LPA utiliza Ácido Trans-Retinóico (ATRA) para desbloquear a diferenciação celular, combinado à quimioterapia e, em alguns casos, trióxido de arsênio (ATO). Iniciada precocemente, a LPA tem prognóstico favorável.

Leucemia Linfoide Aguda (LLA)

Características da LLA

A LLA é a neoplasia maligna mais comum da infância, com pico entre 2 e 10 anos. Origina-se da proliferação de linfoblastos B ou T, podendo infiltrar sistema nervoso central e testículos. Em adultos, tende a ser mais agressiva, associada à translocação t(9;22) (cromossomo Philadelphia).

Sintomas clínicos

Os pacientes apresentam sintomas de pancitopenia, como fadiga, sangramentos e infecções, além de sintomas B (febre, sudorese noturna, perda de peso). Dor óssea é comum, especialmente em crianças, e infiltrações em SNC e testículos são complicações típicas.

Diagnóstico da LLA

Confirma-se com mielograma (>20% de blastos linfocitários) e imunofenotipagem (B ou T). Estudos genéticos como PCR para t(9;22) auxiliam na estratificação de risco.

Tratamento

O tratamento é intensivo, baseado em protocolos pediátricos (como GBTLI), com fases de quimioterapia e profilaxia do SNC. Casos de alto risco podem ser encaminhados ao transplante de medula óssea.

Leucemias Crônicas

O que são leucemias crônicas?

As leucemias crônicas apresentam evolução lenta, com proliferação de células maduras, morfologicamente bem diferenciadas, porém funcionais deficientes. Muitas vezes são diagnosticadas incidentalmente devido à leucocitose ou linfocitose em exames de rotina.

Principais tipos

  • Leucemia Mieloide Crônica (LMC)
  • Leucemia Linfocítica Crônica (LLC)

Ambas requerem abordagem diagnóstica e terapêutica específicas.

Leucemia Mieloide Crônica (LMC)

Características da LMC

A LMC é caracterizada pela presença do cromossomo Philadelphia (t(9;22), gene de fusão BCR-ABL). Divide-se em três fases: crônica, acelerada e blástica.

Sintomas clínicos

Adultos de meia-idade, frequentemente assintomáticos, são diagnosticados por leucocitose. Esplenomegalia é comum. Hemograma pode mostrar basofilia aumentada.

Diagnóstico

Confirmado pela pesquisa do gene BCR-ABL, geralmente por PCR.

Tratamento

O tratamento é feito com inibidores de tirosina-quinase (ITK), como Imatinibe, Dasatinibe e Nilotinibe, transformando a LMC em uma condição crônica controlável.

Leucemia Linfocítica Crônica (LLC)

Características da LLC

A LLC, leucemia mais comum em adultos, é marcada pela proliferação monoclonal de linfócitos B maduros, porém imunologicamente disfuncionais. Apresenta curso lento, frequentemente apenas acompanhado.

Diagnóstico

Baseado na linfocitose persistente (>5.000 linfócitos/mm³ por mais de 3 meses) e imunofenotipagem do sangue periférico (CD5, CD19, CD23 positivos). Mielograma não é necessário.

Tratamento

Pacientes assintomáticos são acompanhados; o tratamento só é iniciado diante de sintomas, citopenias autoimunes, linfadenomegalia ou progressão rápida. Utilizam-se anticorpos monoclonais anti-CD20 (Rituximabe) e quimioterapia. O transplante é reservado para casos refratários.

Emergências em Leucemias

As leucemias, especialmente nas fases agudas, podem evoluir com complicações graves e fatais. As principais emergências hematológicas são a Síndrome de Hiperviscosidade e a Síndrome de Lise Tumoral (SLT).

Síndrome de Hiperviscosidade

Ocorre quando a contagem de leucócitos ultrapassa 100.000 células/mm³, prejudicando a perfusão tecidual e resultando em sintomas como cefaleia, alterações visuais, dispneia, confusão mental e tromboses. O manejo envolve leucaférese e hidratação vigorosa, associadas à hidroxiureia.

Síndrome de Lise Tumoral (SLT)

Decorre da destruição maciça de células neoplásicas após quimioterapia, levando à liberação de potássio, fosfato, ácido úrico e proteínas. Isso pode causar arritmias, convulsões, tetania e insuficiência renal aguda. A profilaxia envolve hidratação, alcalinização urinária (em alguns casos), alopurinol ou rasburicase.

Outras Neoplasias Mieloproliferativas

As síndromes mieloproliferativas crônicas abrangem doenças clonalmente relacionadas, caracterizadas pela hiperprodução de elementos do sangue com maturação preservada. Além da LMC, incluem-se:

Policitemia Vera

Caracterizada pelo aumento da massa eritrocitária total, frequentemente associada à mutação V617F do gene JAK2. Sintomas incluem rubor facial, eritromelalgia, prurido aquagênico e tromboses. O tratamento é feito com sangria terapêutica e, em alto risco, hidroxiureia e AAS.

Trombocitemia Essencial

Define-se pela produção excessiva de plaquetas (>450.000/mm³) e pode cursar com tromboses ou sangramentos. Cerca de 50-60% dos casos têm mutação JAK2. O tratamento é baseado no risco trombótico.

Mielofibrose

Neoplasia marcada por fibrose medular progressiva e hematopoiese extramedular. Os pacientes apresentam anemia, esplenomegalia e células em lágrima. O transplante de medula óssea é a única cura, indicado para casos de alto risco.


Perguntas Frequentes sobre Leucemias

O que causa as leucemias?
As causas são multifatoriais, incluindo fatores genéticos, exposição a radiação, certos agentes químicos e algumas síndromes hereditárias.

Quais são os principais sintomas das leucemias?
Cansaço, palidez, febre, infecções recorrentes, sangramentos, dores ósseas e aumento de gânglios linfáticos ou baço.

Como é feito o diagnóstico da leucemia?
O diagnóstico envolve exames laboratoriais, mielograma, imunofenotipagem, e testes genéticos/citogenéticos.

Leucemia tem cura?
Algumas formas são potencialmente curáveis, especialmente em crianças e com transplante de medula óssea ou terapia-alvo.

O que é o cromossomo Philadelphia?
É uma alteração genética característica da LMC, resultante da fusão dos genes BCR e ABL, que aumenta a proliferação celular.

Conclusão

Entender as diferentes formas de leucemias, suas manifestações clínicas, diagnósticos e tratamentos é essencial para o manejo adequado desses pacientes. O avanço das terapias, especialmente a medicina personalizada, vem transformando o prognóstico dessas doenças, tornando possível a remissão duradoura ou mesmo a cura em muitos casos.

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