Coqueluche: atualizações 2024 da nota técnica e implicações na prática e provas de residência médica

Coqueluche: Atualizações 2024 e o que pode cair na residência médica
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A coqueluche, infecção respiratória causada pela Bordetella pertussis, voltou a ganhar destaque em 2024 após um expressivo aumento no número de casos registrados no Brasil e em diversos países, incluindo Colômbia, Reino Unido, Austrália, China e Estados Unidos. Dados recentes apontam que 86% dos óbitos no território nacional ocorreram em lactentes com menos de 1 ano, reforçando o impacto clínico da doença em populações vulneráveis.

Diante desse cenário, o Ministério da Saúde publicou uma nova Nota Técnica (nº 06/2024) com atualizações importantes nos critérios de definição de caso suspeito, orientações para quimioprofilaxia e reforços na estratégia vacinal. Essas mudanças têm implicações diretas tanto na prática clínica diária — especialmente na atenção básica e serviços de urgência — quanto na preparação para provas de residência médica, onde o tema mantém alta recorrência.

Neste artigo, você encontrará um resumo claro, atualizado e com base em diretrizes oficiais sobre as principais mudanças no manejo da coqueluche, com foco no que realmente importa para tomada de decisão clínica e acertos em prova.

O que é a coqueluche?

A coqueluche é uma infecção respiratória altamente contagiosa causada pela bactéria Bordetella pertussis, um cocobacilo gram-negativo aeróbio. A transmissão ocorre principalmente por gotículas respiratórias, com maior risco de disseminação durante a chamada fase paroxística, caracterizada por crises intensas de tosse.

O curso clínico da doença é classificado em três fases:

  1. Fase catarral (ou pródromica): sintomas inespecíficos como coriza, febre baixa e tosse leve. É a fase mais contagiosa, embora ainda sem manifestações clássicas.
  2. Fase paroxística: marcada por crises súbitas e incontroláveis de tosse, geralmente com 5 a 10 episódios em uma única expiração, seguidas de guincho inspiratório, vômitos e cianose. Essa fase pode durar de 2 a 6 semanas.
  3. Fase de convalescença: diminuição gradual dos sintomas, com melhora progressiva, mas tosse residual pode persistir por semanas.

Um ponto fundamental a ser compreendido é que nem a infecção natural nem a vacinação conferem imunidade permanente. Isso significa que tanto indivíduos previamente infectados quanto vacinados podem apresentar novos episódios ao longo da vida — fato que contribui para a persistência da doença em ciclos endêmicos e hiperendêmicos.

O período de incubação da Bordetella pertussis varia entre 5 e 10 dias, podendo se estender até 21 dias em alguns casos. A janela de transmissão se inicia por volta do quinto dia após a exposição e se estende por até três semanas após o início dos sintomas, especialmente se o paciente não for tratado com antibióticos adequados.

Diante desse perfil clínico e epidemiológico, o reconhecimento precoce da doença — principalmente em crianças pequenas — é essencial para reduzir complicações e impedir a propagação do agente na comunidade.

Panorama epidemiológico atual (2024)

Após um período de relativa estabilidade nos registros, o ano de 2024 marcou uma recrudescência significativa dos casos de coqueluche em diferentes regiões do mundo. Países como Colômbia, Reino Unido, Austrália, China e Estados Unidos reportaram aumentos expressivos na notificação da doença. No Brasil, o cenário segue a mesma tendência, com surtos identificados em diversos estados.

De acordo com dados do Ministério da Saúde, 86% dos óbitos confirmados por coqueluche ocorreram em crianças menores de 1 ano, o que reforça a gravidade da doença nessa faixa etária. Lactentes jovens apresentam maior risco de complicações como apneia, pneumonia e encefalopatia, além de maior probabilidade de hospitalização e mortalidade.

A coqueluche é considerada uma doença endêmica com ciclos hiperendêmicos que ocorrem a cada 3 a 5 anos. Esses ciclos são influenciados por diversos fatores, entre eles:

  • Redução da cobertura vacinal populacional
  • Diminuição da imunidade individual ao longo do tempo
  • Circulação contínua da bactéria mesmo em populações vacinadas
  • Subnotificação ou diagnóstico clínico impreciso

Esse contexto levou à publicação da Nota Técnica nº 06/2024, que visa padronizar os critérios de definição de casos suspeitos, reforçar a importância da notificação e orientar estratégias de prevenção — principalmente no que diz respeito à vacinação e à quimioprofilaxia de contatos próximos.

Para médicos, especialmente os que atuam em atenção primária e pediatria, e para candidatos à residência médica, conhecer as atualizações epidemiológicas é crucial tanto para a tomada de decisão clínica quanto para o enfrentamento de questões teóricas nas provas.

Definição de caso suspeito: o que mudou?

Uma das atualizações centrais da Nota Técnica nº 06/2024 está na padronização e estratificação da definição de caso suspeito de coqueluche por faixa etária, o que visa melhorar a vigilância e facilitar o reconhecimento clínico precoce da doença, especialmente nos grupos de maior risco.

Critérios para < 6 meses de idade:

Considera-se caso suspeito toda criança com tosse por 10 dias ou mais, associada a pelo menos um dos seguintes sinais ou sintomas:

  • Tosse paroxística (crises súbitas e incontroláveis)
  • Episódios de tossidas rápidas e curtas (5 a 10) em uma única expiração
  • Guincho inspiratório
  • Vômitos pós-tosse
  • Cianose
  • Apneia
  • Engasgo

Critérios para ≥ 6 meses:

Considera-se caso suspeito toda pessoa com tosse há 14 dias ou mais, associada a pelo menos um dos seguintes critérios:

  • Tosse paroxística
  • Episódios de tossidas rápidas e curtas (5 a 10) em uma única expiração
  • Guincho inspiratório
  • Vômitos após os acessos de tosse

Exceção importante:

Em qualquer idade, a presença de tosse de qualquer duração associada a contato próximo com um caso confirmado por critério laboratorial também caracteriza caso suspeito.

Esses critérios reforçam a necessidade de anamnese detalhada e valorização do histórico epidemiológico, especialmente em contextos de surto ou aumento da incidência local. Também destacam a importância de diferenciar a coqueluche de outras causas comuns de tosse persistente, como bronquiolite, asma, refluxo gastroesofágico e corpo estranho em vias aéreas.

Com os novos parâmetros, a definição de caso passa a ter maior sensibilidade nas faixas etárias mais vulneráveis, contribuindo para intervenções precoces e redução da transmissão comunitária.

Diagnóstico e conduta atual

O diagnóstico da coqueluche continua sendo predominantemente clínico, baseado na combinação de tempo de tosse, características dos episódios paroxísticos e contexto epidemiológico, especialmente em períodos de aumento de incidência como o de 2024. A nova Nota Técnica reforça a importância de identificar precocemente casos suspeitos com base nos critérios por faixa etária, mesmo na ausência de confirmação laboratorial.

Diagnóstico clínico

O quadro clínico típico — com tosse persistente, paroxismos, guincho inspiratório e vômitos pós-tosse — é altamente sugestivo, especialmente em lactentes e crianças pequenas. Em muitos casos, o diagnóstico deve ser presumido com base na história e na observação direta da tosse, sem necessidade de confirmação laboratorial para início do tratamento.

Diagnóstico laboratorial

Embora não seja obrigatório em todos os casos, o diagnóstico laboratorial pode ser realizado, especialmente em situações de surto, investigação epidemiológica ou em pacientes internados. Os principais métodos incluem:

  • PCR para Bordetella pertussis: método mais sensível, especialmente nas primeiras semanas.
  • Cultura de aspirado nasofaríngeo: menos sensível, mas altamente específica.
  • Sorologia: menos utilizada na prática clínica, devido à limitação em diferenciar infecção recente de resposta vacinal.

Tratamento de primeira linha

A azitromicina por via oral é o antibiótico de escolha para o tratamento da coqueluche, tanto em adultos quanto em crianças. O esquema preconizado é:

  • Azitromicina VO por 5 dias

A escolha da azitromicina se deve à sua eficácia, posologia conveniente e melhor tolerabilidade. Além disso, apresenta menor risco de efeitos adversos cardíacos do que outros macrolídeos em lactentes.

Alternativa terapêutica

Em casos de contraindicação ou intolerância à azitromicina, a alternativa recomendada é:

  • Sulfametoxazol-trimetoprim (SMX-TMP)

Esse esquema, no entanto, deve ser evitado em menores de 2 meses de idade devido ao risco de kernicterus.

O tratamento é mais eficaz quando iniciado na fase inicial da doença. Apesar de não alterar significativamente o curso clínico se iniciado tardiamente, ainda assim é importante para reduzir a transmissibilidade e proteger contatos próximos.

A orientação sobre quimioprofilaxia será detalhada a seguir.

Quimioprofilaxia: para quem e como?

A quimioprofilaxia é uma medida essencial no controle da disseminação da coqueluche, especialmente em ambientes com indivíduos vulneráveis, como recém-nascidos, lactentes e gestantes. A nova Nota Técnica de 2024 reforça a necessidade de uma abordagem mais ativa na prevenção secundária, indicando profilaxia antibiótica mesmo em contatos assintomáticos, desde que se enquadrem nos critérios estabelecidos.

Quem deve receber quimioprofilaxia?

A quimioprofilaxia está indicada para comunicantes próximos de casos confirmados ou suspeitos de coqueluche, independentemente da presença de sintomas. São considerados contatos próximos:

  • Membros da mesma residência
  • Colegas de creche ou escola em contato direto
  • Profissionais de saúde expostos sem proteção adequada
  • Contatos domiciliares de lactentes menores de 1 ano

Essa conduta é especialmente relevante em ambientes com alto risco de complicações, como unidades neonatais, enfermarias pediátricas e instituições de longa permanência para idosos.

Esquema de quimioprofilaxia

O esquema recomendado é idêntico ao tratamento do caso clínico, utilizando azitromicina:

  • Azitromicina VO por 5 dias

Nos casos em que a azitromicina está contraindicada, a alternativa é o uso de:

  • Sulfametoxazol-trimetoprim (SMX-TMP), seguindo o mesmo regime utilizado no tratamento.

É importante salientar que a eficácia da profilaxia é maior quando administrada nas primeiras três semanas após a exposição, embora possa ser considerada mesmo após esse período, especialmente em lactentes e gestantes.

Considerações importantes

  • A quimioprofilaxia não substitui a vacinação.
  • Em contatos vacinados, a profilaxia ainda pode ser indicada, dada a ausência de imunidade duradoura conferida pela vacina.
  • O objetivo principal é interromper a cadeia de transmissão, protegendo principalmente os lactentes não vacinados ou parcialmente vacinados.

A utilização correta da quimioprofilaxia, aliada à vigilância ativa de casos, é um dos pilares do controle de surtos em ambientes clínicos e comunitários.

Atualização da vacinação

Apesar de não conferir imunidade permanente, a vacinação continua sendo a estratégia mais eficaz para reduzir a incidência e a gravidade dos casos de coqueluche, especialmente em crianças pequenas e grupos de risco. A Nota Técnica de 2024 reforça a importância de manter altas coberturas vacinais, incluindo o esquema infantil e o reforço em gestantes.

Esquema vacinal atual

O calendário vacinal brasileiro prevê as seguintes doses contra a coqueluche:

  • Pentavalente (DTPw-HB-Hib): 3 doses — aos 2, 4 e 6 meses
  • DTP (tríplice bacteriana): 2 reforços — aos 15 meses e aos 4 anos
  • dTpa (tríplice acelular do adulto):
    • Gestantes: a partir de 20 semanas de gestação, em toda gestação
    • Puérperas não vacinadas durante a gravidez: dose única até 45 dias pós-parto
  • dT (dupla adulto): reforço a cada 10 anos ao longo da vida adulta

Vacinação de gestantes: estratégia de proteção indireta

A administração da vacina dTpa em gestantes visa aumentar os níveis de anticorpos maternos contra B. pertussis, proporcionando imunidade passiva ao recém-nascido nos primeiros meses de vida — período de maior vulnerabilidade e antes da primeira dose da pentavalente.

O esquema atualizado preconiza a aplicação da dTpa a partir da 20ª semana de gestação, independentemente do número de gestações anteriores. Essa medida é respaldada por evidências que demonstram redução significativa da mortalidade por coqueluche em lactentes quando a mãe é imunizada durante a gravidez.

Considerações práticas

  • O ideal é manter registro atualizado da vacinação em adultos, especialmente profissionais de saúde e cuidadores de crianças pequenas.
  • A verificação do cartão vacinal deve ser rotina em todas as consultas pediátricas e pré-natais.
  • Em casos de surtos locais ou contato com casos confirmados, a vacinação não substitui a quimioprofilaxia, mas deve ser reforçada quando há atraso no esquema.

O controle da coqueluche depende diretamente da adesão ao calendário vacinal completo, da identificação de lacunas na cobertura populacional e do reforço de estratégias de vacinação em grupos-chave.

Implicações para a prova de residência médica

A coqueluche é um tema frequente nas provas de residência médica, especialmente em pediatria, medicina preventiva e doenças infecciosas. Em anos com aumento da incidência e atualizações em documentos oficiais — como ocorreu em 2024 com a publicação da Nota Técnica nº 06/2024 — o assunto ganha ainda mais relevância nas bancas.

Tópicos com alta probabilidade de cobrança

Com base nas atualizações recentes e no histórico das provas, os seguintes pontos devem ser priorizados no estudo:

  • Definição de caso suspeito por faixa etária, incluindo os critérios clínicos atualizados
  • Esquema de tratamento de primeira linha: antibióticos, tempo de uso e alternativas
  • Indicações de quimioprofilaxia: quem deve receber, quando e com qual medicação
  • Esquema vacinal atualizado, incluindo a dTpa para gestantes
  • Fisiopatologia e fases clínicas da coqueluche: reconhecimento da fase paroxística
  • Epidemiologia recente: aumento de casos em 2024 e países afetados

Esses pontos costumam ser cobrados em questões objetivas de associação clínica-epidemiológica, casos clínicos com pediatria ambulatorial ou perguntas diretas sobre conduta e vacinação. Algumas bancas podem ainda explorar a diferença entre coqueluche e outras causas de tosse persistente na infância (como bronquiolite ou asma), exigindo maior capacidade de diferenciação diagnóstica.

Dica prática para estudantes

Estar atento às atualizações de órgãos oficiais, como notas técnicas do Ministério da Saúde e boletins epidemiológicos, é uma forma inteligente de antecipar temas prováveis de prova. Além disso, conteúdos como este — organizados com base em diretrizes recentes — funcionam como um resumo confiável para revisão de última hora.

Para quem está se preparando para provas com foco em pediatria, doenças infecciosas ou saúde pública, a coqueluche em 2024 deve ser considerada tema obrigatório de revisão.

Sendo assim

A coqueluche permanece como uma doença de importância clínica e epidemiológica, sobretudo em lactentes e grupos de risco. O aumento expressivo de casos em 2024 e a publicação da Nota Técnica nº 06/2024 exigem que médicos e estudantes estejam atualizados quanto às novas definições de caso suspeito, às condutas terapêuticas e profiláticas e ao esquema vacinal recomendado.

Na prática clínica, a identificação precoce de casos e a correta indicação de tratamento e quimioprofilaxia são fundamentais para conter a transmissão e proteger populações vulneráveis. Já no contexto das provas de residência médica, o tema se consolida como um dos mais relevantes do ano, exigindo domínio tanto do raciocínio clínico quanto das normativas atuais.

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